Neste livro, Fausto Neto se propõe a estudar dois casos principais sobre o tratamento dado pela mídia à morte decorrente da AIDS de dois artistas brasileiros famosos: Cazuza e Lauro Corona.
A morte é um significante que está permanentemente na mídia “segundo as embalagens próprias das hierarquias editoriais, que tratam de subordinar a morte singular do sujeito, no esquema padrão, à causa mortis do jornal. A conseqüência imediata se constitui no fato de subordinar este acontecimento, por assim dizer, absurdo, recusável, entrópico, (pág. 14) à inteligência dos próprios sistemas de enunciação mediáticos. É nessas circunstâncias que diferentes mortes comparecem, diariamente, nas diferentes páginas de jornais e nos espaços rádio-televisivos para, no interior de cada economia enunciativa, se converterem em objeto do engendramento da noção de realidade. Ricos, pobres, pessoas, indivíduos, “olimpianos” de diferentes matizes, funcionam como espécie de insumos da “economia discursiva” da comunicação, segundo as diferenças que caracterizam os múltiplos sistemas de operação. Cada sujeito é objeto — ao nível do discurso — de processos simbólicos singulares que, neste caso, tornam a particularizar a morte do corpo, é claro, mas de sujeitos sociais diferentes”. (pág. 15)