"Ex libris" significa "dos livros de", é também uma vinheta que se cola nos livros com o nome do proprietário. O BITS, Grupo de Pesquisa Informação, Cultura e Práticas Sociais, é a vinheta sob a qual discutimos interesses diversos ligados às Ciências Humanas e realizamos nossas leituras sobre o mundo atual. Reforçamos aqui este caráter de buscador de conhecimentos, de reflexões sobre o mundo e a vida nessa sociedade digital.

quinta-feira, março 04, 2010

Do Sofrimento do Mundo

SCHOPENHAUER, Arthur. Do Sofrimento do Mundo. São Paulo: Martin Claret, 2001. 128p.


Para Schopenhauer o sentido para a vida é o sofrimento gerado pelas necessidades essenciais da vida e a infelicidade é a regra, mesmo que a infelicidade individual pareça uma exceção.
O fundamento da negatividade da felicidade está em que não nos damos conta quando as coisas correm satisfatoriamente, quando gozamos de boa saúde etc. No entanto, qualquer contrariedade à nossa vontade é desagradável e/ou causa sofrimento. A dor, e por conseqüência o sofrimento, portanto, é positiva (113).
“o mal é o positivo, é aquilo que em si mesmo se torna sensível; e o bem (por exemplo, toda felicidade e satisfação) constitui o negativo, isto é, vem a ser a supressão do desejo e a eliminação da angústia.”
Assim como para os grupos, a vida dos indivíduos é uma luta constante com a necessidade e o tédio. O homem encontra oposição em toda a parte e vive lutando continuamente (114).
De acordo com Schopenhauer, todos nós precisamos de “uma certa dose de preocupação, de dor, ou necessidade” e “trabalho, aflição, esforço e necessidade constituem a sorte, no curso da vida, da maior parte das pessoas”.
A base sobre a qual a felicidade e a infelicidade se apresentam ao homem é bastante reduzida e envolvem saúde, alimento, proteção do frio e umidade e satisfação sexual (115).

História do Pudor

BOLOGNE, Jean Claude. História do Pudor. Rio de Janeiro: Elfos Ed.; Lisboa, Portugal: Teorema, 1990.

A pudicícia do imperador Maximiliano era tal que ele se recolhia sozinho na sua cadeira furada, “sem se servir de criados de quarto ou de pajens”... Tal era a de Isabel de Castela, que a rainha morreu de uma úlcera que não quis mostrar; houve mesmo que administrar-lhe a extrema-unção debaixo dos lençóis, pois não queria mostrar os pés. E que dizer de Ana de Áustria que, por mais de cem mil francos, mandou destruir quadros “indecentes”? De Luís XLII, que borrou os frescos do seu quarto? De Mazarino, que mutilava as estátuas?
No oposto, que dizer da baronesa de Montreuil-Bellay, que mandava um dos seus vassalos, quando ia a casa dele, levá-la às cavalitas àquele sítio onde ele próprio ia a pé e estender-lhe o musgo que fazia as vezes de papel? Que dizer de um rei que recebia os seus súbditos na sua cadeira higiênica e mandou que, no teatro, os selvagens ~‘trajassem como se estivessem quase nus”? Estes exemplos, todos da mesma época, mostram que, se o pudor existiu sempre, aplicou-se, ao longo dos séculos, a domínios sensivelmente diferentes. Grande era a tentação de escrever essa história...

Mito na mídia

CONTRERA, Malena Segura. O mito na mídia: a presença de conteúdos arcaicos nos meios de comunicação. São Paulo: Annablume, 2000. (Selo Universidade : 45). 113p.

Esse livro, apesar de usar um corpo teórico que me é estranho e muitas vezes para mim advinhatório – como sempre me parecem os discípulos de Edgar Morin –, possui algumas afirmações interessantes sobre a mídia, e são essas que procurarei expor aqui.
Ela destaca a dimensão ritual que a leitura matinal do jornal possui. Afirma também que sendo a mídia uma “estrutura simbólica de poder”, ela nos seduz, mas mais que isso, somos capturados pelos “conteúdos míticos” da comunicação jornalística (53).
Esse caráter mítico se mostra também no ritmo diferenciado que o jornal imprime à realidade da própria informação, quando lança os jornais do domingo no sábado, por exemplo. Além, disso inverte sua própria função primária, a de informar opinativamente os fatos, mas também atualmente tem como conteúdo seus próprios comportamentos (53). E isso se evidencia muito mais nos jornais de sensação que tanto são notícia em suas próprias páginas, mas também nas páginas de jornais concorrentes, principalmente no que se refere aos limites do comportamento ético dos jornalistas e da apresentação de notícias.

A estesia grotesca

SODRÉ, Muniz. “A Estesia Grotesca”. In: O social irradiado: violência urbana, neogrotesco e mídia. São Paulo: Cortez, 1992. pp.89-111.

Forma especial do barroco (ou maneirismo). O estilo grottesco, vindo de grota, gruta, ou ‘pedregoso’ se caracteriza por uma forte dose de naturalismo rústico. O autor parte de uma noção presente no trabalho de Bakhtin, o “realismo grotesco” para chamar a atenção sobre uma característica presente hoje na indústria cultural, não só no Brasil, mas em todo o mundo.
Sodré fala que o que se pode chamar de sociedade de massa aqui no Brasil representa apenas 20% da população economicamente ativa. É a parcela que controla a riqueza privada do Brasil, possuindo um perfil econômico de alta concentração de renda e liquidez. Essa camada se caracteriza também por um perfil cultural centrado na busca de uma identidade civilizada pelos saberes e bens simbólicos vindos do Primeiro Mundo (1992, p.90).

A expressão obrigatória dos sentimentos

Em seu texto “A expressão obrigatória dos sentimentos”, de 1921, M. Mauss estuda os cultos funerários australianos e percebe que, tanto as lágrimas, quanto uma série de expressões orais de sentimentos não são apenas fenômenos psico-fisiológicos, mas também fenômenos sociais, que em vez de serem expressões individuais, são marcados por obrigações por parte dos membros da sociedade (Mauss, 1979, p.147). Nesse espectro, por exemplo, poderiam-se incluir os cultos funerários e o luto.
Esse caráter coletivo é grandemente marcado por cerimônias públicas que possuem regras próprias e fazem parte do ritual da vendetta e da determinação de responsabilidades, pondo em ação sentimentos e emoções construídos coletivamente, o que permite, segundo Mauss (1979, p.149), entrever a própria coletividade em interação.